É Boa (a)Posta!
Após três meses de teletrabalho em Lisboa e uma tentativa de regresso ao escritório interrompida ao fim de duas semanas, decidi rumar ao interior norte, mais concretamente ao concelho da Mêda, no distrito da Guarda. A ideia era ficar uma semana a teletrabalhar por lá e depois regressar à capital. Com o agravar da situação pandémica na Área Metropolitana de Lisboa e, em particular, na freguesia onde resido habitualmente, decidi permanecer mais uns tempos até que a situação melhorasse.
Acabaram por ser quatro semanas completas de trabalho num ambiente novo, ao qual me habituei rapidamente. A Biblioteca Municipal seria o meu escritório, uma vez que não me compensava investir em acesso à internet por uma semana. Tendo garantido o mínimo indispensável para trabalhar na minha função, e em tantas outras nos dias de hoje, o resto iria ser descoberto aos poucos.
A Biblioteca
No primeiro dia de trabalho, uma segunda feira que se previa árdua, cheguei à Biblioteca Municipal de Mêda antes desta abrir. Foi a primeira surpresa desta aventura, que podia ter sido evitada caso me tivesse lembrado de verificar de antemão o respetivo horário. Na meia hora que faltava para abrir, decidi ir comprar um jornal e ler as frescas enquanto esperava, hábito que se repetiu duas a três vezes por semana.
Chegado àquele que seria o meu novo posto de trabalho, fui informar-me se não havia inconveniente em trabalhar ali, sendo que eventualmente teria de fazer videoconferências. Foi-me prontamente dito que não havia qualquer problema, apenas que poderia notar algum ruído, uma vez que ‘os miúdos’ iam lá de manhã ter vídeo-aulas, caso não tivessem computador ou internet em casa. Sendo um espaço grande, não se veio a revelar um problema, até porque no fim da primeira semana entraram de férias.
Em termos de condições de trabalho, não poderia pedir melhor – o ambiente era fresco, contrastando com os trinta e muitos graus que se faziam sentir na rua; era iluminado de forma natural; tinha mesas grandes, por onde espalhava os meus pertences; tinha boa conexão à internet por wireless; e apresentava casas de banho cuidadas e limpas. Estavam reunidas as condições para ser produtivo.
Os restaurantes
Tinha decidido ir todos os dias almoçar a um restaurante diferente. Estiveram fechados três meses sem entrada de rendimentos e eu estive fechado em casa três meses sem grandes gastos. Foi uma forma de ajudar a economia local, conhecer novos restaurantes e não ter de me preocupar em ir a casa, cozinhar e regressar à dita biblioteca.
A escolha era sempre feita minutos antes de sair para almoçar. Correu quase sempre bem, mas em tempos de pandemia pedia-se que confirmasse a disponibilidade antes de tentar almoçar em determinado sítio. Isto porque dois ou três deles estavam a servir apenas por marcação.
Tendo havido um feriado municipal no qual não trabalhei, os 19 restaurantes que frequentei foram: Cantiflas; Ernestus; Domvs restaurante; Espada Lua; Flora; O Morgado; Restaurante Marisqueira; Fornos do Rei; Hotel medieval de Penedono; Tasca do Bacalhau Frito; Chafariz do Vento; O Retiro; Taberna Costa; O Lagar; Vale d’Aldeia; O Mercado; Pizzaria M; Sete e Meio.
Não tendo ficado desiludido com nenhum dos restaurantes, vou deixar duas notas de distinção. A primeira vai para a melhor refeição, a posta mirandesa do Cantiflas, em São João da Pesqueira. São dois nacos de carne suculenta com dimensões generosas, acompanhados de batatas assadas no forno e, para sobremesa, a típica tarte de amêndoa. A segunda distinção vai para o restaurante mais acolhedor, o Ernestus. Localizado numa pequena aldeia chamada Pereiros, apresentou um serviço de excelência e ingredientes caseiros. Este foi no entanto um dos casos onde tive sorte, pois serviam apenas com marcação.
Escritórios secundários
Apesar de ter trabalhado na maior parte dos dias a partir da Mêda, fi-lo por três ocasiões em locais distintos. A primeira foi na Biblioteca Municipal de Foz Côa durante uma tarde, após ter almoçado nesta cidade. A princípio, tive problemas com a conexão wireless, algo que se resolveu depois de trocar de sala. A ergonomia e o à vontade não eram ideais mas para uma tarde foi suficiente.
A segunda ocasião foi na Biblioteca de Vila Franca das Naves. Sendo bastante mais pequena – note-se que não se trata de uma sede de concelho – serviu o propósito, enquanto o meu meio de locomoção era reparado na oficina, após me ter pregado um valente susto quando decidiu não travar.
Por fim, no último dia de teletrabalho no interior, fiquei por São João da Pesqueira, também na Biblioteca Municipal. Após ter ido almoçar ao Cantiflas, não era logisticamente lógico regressar à Mêda visto que pretendia ir ao Miradouro de São Salvador do Mundo após findar o trabalho. Sendo de todos o local mais sombrio onde trabalhei, deu-me oportunidade de ter uma vista sobre a paisagem visto ter escolhido uma mesa ao lado da janela.
Afterwork
Não o tendo feito todos os dias, visitei alguns miradouros após o horário laboral. Todos eles localizados a menos de 30 quilómetros do ‘escritório’ e com vistas dignas de um bom papel de parede.
Uma boa aposta
Findadas as quatro semanas e tendo regressado a Lisboa, atribuo uma nota muito positiva a esta jornada. Serviu para desanuviar das quatro paredes onde passei a maior parte do confinamento até à data, permitiu-me conhecer novos sabores, ajudar a economia local, já de si mais retraída antes da pandemia, visitar miradouros incríveis e, acima de tudo, não prejudicou em nada a minha produtividade.
Aconselho a quem o possa fazer, mesmo que em durações mais comedidas, a não hesitar e ir à descoberta. Evidentemente que surgirão percalços e surpresas mas mesmo isso pode ser encarado como um desafio positivo para o desenvolvimento de cada um. No entanto, enquanto a situação pandémica se mantiver, façam-no com as devidas precauções e cumprindo todas as regras da DGS. De outra forma esta aventura pode tornar-se um pesadelo.
Filipe Zuzarte
Co-fundador, membro da Equipa Editorial e um dos "pseudo-especialistas em nada" que opinam na Enciclopédia Portuguesa de Microassuntos. Como interesses tem: Automóveis, Economia, Viagens e a criação de página de memes.
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