Pode a direita repetir a vitória de Dias Ayuso? Para já, nem pensar…

Foi com enorme expectativa e felicidade (não total) que assisti aos resultados de ontem na Comunidade de Madrid. Vitória esmagadora da direita moderada/centro-direita e um fracasso total de Pablo Iglesias. Mas vamos por partes:

  1. Ao contrário de Portugal – em Espanha – o PP não se demitiu de fazer oposição, nem de discordar de várias medidas do “estado de alarma” (equivalente ao nosso estado de emergência), afirmando-o alto e bom som. Não foi em vão que o Podemos partilhou a intervenção de Rui Rio (“não somos oposição, somos colaboração”) e exultava que a oposição espanhola alinhasse pelo mesmo diapasão.

 

  1. Se numa primeira fase a atitude de Rui Rio foi a mais acertada, a verdade é que a demissão quase total de realização de oposição permitiu o crescimento paulatino do Chega e da IL. Desde a falta de oposição por omissão (ex: Tribunal de Contas), até à falta de oposição por ação (ex: fim dos debates quinzenais), a verdade é que o PSD não consegue marcar a agenda e tem uma enorme dificuldade em apresentar-se como alternativa.

 

  1. Aí reside a principal arma de Dias Ayuso. Contra toda a pressão mediática e coro de críticas, Ayuso recusou-se a embarcar nos lockdowns destruidores em que entraram a Catalunha, o País Basco e a Comunitat Valenciana. A verdade é que Ayuso foi clara ao afirmar que iria aguentar até ao limite a economia aberta, com as restrições mínimas possíveis. Altamente criticada pelo custo do Hospital Zendal, a verdade é que foi um dos equipamentos que permitiu manter a economia aberta, sem rutura do sistema sanitário, em Madrid. E este foi o ponto principal da sua vitória.

 

  1. Por cá, por exemplo, o PSD não foi capaz de exigir a reabertura gradual a partir de meados de Março, não foi capaz de se insurgir contra a miséria que o encerramento de fronteiras com Espanha provocou na zona raiana e continua a não fazer a devida oposição quanto ao valor escandaloso dos testes de PCR que serão necessários para reabrir a economia ao turismo.

 

  1. Pedro Sanchéz será o equivalente nacional a Pedro Nuno Santos. Com uma agenda mais estatizante, os madrilenos não viram com bons olhos os seus planos. Enquanto Sanchéz anunciava um aumento de impostos, Ayuso anunciava uma descida. Cereja no topo do bolo, um vice-presidente chamado Iglesias que usa o terrorismo verbal e o clima de insulto e crispação permanente como forma de política. Nesse aspeto, há que conceder que António Costa é o oposto e já percebeu o perigo que tem dentro de portas. Não é em vão que tem dado a Pedro Nuno Santos os dossiers adequados para este se queimar: TAP; Groundforce; C.P. e Habitação.

 

  1. Finalmente, a renovação geracional. Ayuso, Casado (líder do PP) e Almeida (alcalde de Madrid) têm uma média de idades de 42 anos. Como se viu nas eleições e nas comemorações (mas também nos dados) Ayuso teve a capacidade de aglutinar e mobilizar a juventude.

 

Ayuso não tem medos, nem complexos com cercas sanitárias no debate político. Não se preocupa com o que a catalogam. Focou-se em passar uma mensagem clara que foi acolhida pelo eleitorado. As pessoas. Mais liberdade e menos impostos.

Por cá, enquanto a oposição esperar que o Governo caia pelo próprio desgaste ao invés de apresentar uma alternativa, uma vitória como a de Ayuso é uma miragem.

© Javier Soriano / AFP
André Tavares Moreira

“Poveirinho pela graça de Deus” é advogado de profissão, deputado municipal por prazer e adora análise política e económica. Faz desporto para poder atacar no prato e andar de mota é o seu elixir. Gosta mais de discutir do que ter razão.

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