O meu cérebro é parvo! Não estimado leitor, não estou a ser injusto. Aliás, já desconfiava disto há alguns anos, mas afirmações deste tipo não podem ser feitas ao calha. Nem posso justificar tal afirmação com o facto de ter convivido com o réu desde que me lembro de existir. A minha opinião está enviesada por esses quase 29 anos de convivência.
Exige-se, portanto, um certo espírito científico. Já apresentei a hipótese. Segue-se agora a análise dos dados que corroboram a mesma e, acredite estimado leitor, o que mais tenho são dados. É nesta fase que os 29 anos de convivência servem de aliado. Mas não precisaremos de analisá-los a todos, uma vez que o comportamento do réu mantém-se constante ao longo do tempo.
Por razões que desconheço, e que assumo que apenas se possam explicar com a parvoíce do réu, mal o relógio marca a meia-noite, e de forma completamente sadomasoquista, o réu decide que o meu plano de ir dormir para que no dia seguinte acorde completamente rejuvenescido podia ser melhor. O que se segue? Seguem-se madrugadas inteiras com o mesmo a debater-se sobre as questões mais insignificantes que existem. Sim, algumas tornam-se microassuntos, mas isso fica para outra altura.
Estou deitado, luzes apagadas, confortável e de repente: Por que é que toda a gente desenha um coração de forma completamente diferente da forma do órgão coração? Boom! Adeus descanso. Mesmo que tente, que vire e revire, que mude de sítio ou de posição, já sei que as horas seguintes serão tudo menos tempo dormido. Outras questões vencedoras: (i) Dados os comportamentos erráticos e perigosos, não seria o Hagrid um Death Eater?; (ii) Por que é que se decidiu que uma hora equivalia a 60 minutos ao invés de 50, quando 50 facilitaria imenso o cálculo de estimativas?; (iii) Quem foi o idiota que achou que o lugar da fruta era na pizza?; (iv) Por que raio existem pessoas que colocam o leite antes dos cereais?; (v) Se eu pudesse escolher um superpoder, escolheria voar, o controlo do tempo e espaço, ou a invisibilidade?; (vi) etc.
Nesta fase do artigo, passará pela cabeça do estimado leitor: O que raio tem isto tudo a ver com o título ou com a imagem de capa? Já explico. Mas lá está, todo o processo até aqui é apenas mais uma situação que comprova a hipótese em análise.
Estava eu preparado para me deitar, quando o réu decide questionar-se quanto ao facto da internet em geral, e do universo memográfico (é possível que o termo não exista, mas devia existir) em particular, estar contaminada de bonecos coloridos, que mais se parecem com os fatos de esquadrões anti-bombas. Ou então aqueles fatos antirradiação que o Dr. No e seus capangas usam no filme de 1962. Ou o fato do Heisenberg quando ele está a fazer a droga. Acredito que já estejam a ver os bonecos a que me refiro.
Porque o cérebro não me deixava dormir, decidi investigar e foi aí que descobri que se tratava de um jogo concebido pela Innersloth, que se tinha tornado viral agora apesar de já existir há dois anos, chamado Among Us. Chamo-lhe viral porque neste momento é jogado tanto por garotos que querem um passatempo por algumas horas, como por membros do Congresso Americano como plataforma de apelo ao voto na eleições de Novembro. Devido ao meu espírito científico, não me podia ficar apenas pela constatação, pelo que descarreguei o jogo e rumo à descoberta.
No fundo, aquilo trata-se de uma versão séc. XXI do jogo que muitos de nós conhecíamos como “Assassino”. Simplesmente em versão Gameboy (digo gameboy porque tem todo o estilo de um jogo para aqueles Gameboys antigos em que jogávamos Pokemon Red e afins, no entanto o jogo é para tablets, telemóveis e PC).
O enredo é simples – os tripulantes de uma nave espacial, que irá descolar em breve, terão de cumprir um conjunto de tarefas (como por exemplo: manutenção do sistema elétrico ou dos motores). Infiltrado nesse grupo estão 1 a 3 impostores (escolhidos aleatoriamente), com o objetivo de matar os tripulantes e sabotar a nave. Para que os tripulantes ganhem têm de cumprir com as tarefas e identificar os impostores. Isto tudo antes que os impostores consigam assassinar os tripulantes todos. O processo de identificação é feito democraticamente – todos os participantes (incluindo os impostores, de forma a despistar suspeitas) podem convocar uma reunião de equipa se descobrirem um corpo ou apenas por desconfiarem de alguém e depois tentam convencer os demais a votarem na expulsão de outro participante (do género de um “Elo Mais Fraco”, mas com bonecagem). Neste processo, os impostores podem defender-se e apontar o dedo a outros, tentando causar o caos.
Joguei três partidas, cada uma a durar menos de vinte minutos, e fui o impostor em duas delas – uma improbabilidade estatística que tornou o jogo mais interessante, já que a piada do jogo reside em ser o impostor. Na primeira vez, era o único impostor e fui apanhado em flagrante quando apenas me faltava um tripulante para vencer. Na segunda, conseguimos apanhar os dois impostores em pouco tempo e nada há a relatar. Na terceira, fui um dos dois impostores e safei-me porque, na penúltima votação, tramei o outro impostor, tendo assim logo a seguir conseguido caçar o tripulante que faltava.
Em suma, foi um pedaço bem passado. Provavelmente nunca mais volto a abrir a app, mas não significa que não tenha sido giro. No entanto, acredito que seja mais giro quando se joga com um grupo de amigos porque é mais difícil percebermos se um desconhecido nos está a enganar ou não.
Entretanto, reparei que acabei por nada concluir quanto à hipótese colocada no início do artigo, mas já são quatro da manhã e dava-me jeito dormir umas horitas. Fica para a próxima! Acho que já levam daqui dados suficientes para tirarem as vossas conclusões, uma vez que pensar pela vossa própria cabeça será sempre a situação ideal para uma sociedade melhor. Se conseguiram ler isto até ao fim e estão revoltados com a mixórdia que para aqui foi, reclamem com a equipa que gere esta espécie de sítio onde se publicam coisas. Foram eles que me andaram a chagar a paciência por ainda não ter escrito nada.
João De Almeida
Co-fundador, membro da Equipa Editorial e um dos "pseudo-especialistas em nada" que opinam na Enciclopédia Portuguesa de Microassuntos. Como interesses tem: Política, Economia, Comida, Música e sobretudo coisas parvas.