Uma das aulas que me ajudou a perceber a influência da economia é esta, de Robert Sidelsky, acerca de poder.
A economia funciona com poder não coercivo, isto é, trabalha com incentivos de modo a obter certos comportamentos. Quando um mágico acerta na carta que a pessoa escolheu, ele não adivinha, ele enviesa o jogo de modo a que o resultado seja aquele, usando incentivos.
Este sistema económico parte do princípio de que a competição é o modo de interacção que leva à prosperidade. A competição neste contexto é retratada como: As empresas competem entre si no mercado de modo a ver quem serve melhor os clientes.
Em relação a este aspecto tenho 3 críticas a apontar: a definição utilizada; a forma como olhamos para a interacção entre os agentes económicos; e a própria competição.
1ª Crítica – Definição de competição
A forma como está definida neste sistema económico é a competição como forma de cooperação e não como interacção principal. A diferença é que no primeiro caso, o objectivo de ambas partes envolvidas é compatível e por vezes o mesmo, enquanto no segundo isso não se verifica. Por exemplo, a diferença entre um jogo amigável e um oficial. No primeiro, o objectivo de ambas equipas pode ser o mesmo (dar ritmo aos jogadores) ou diferente (uma equipa quer dar ritmo de jogo, outra pretende testar o que treinou durante a semana) mas são compatíveis. No caso dos jogos oficiais isso não acontece, ambas querem ganhar, mas uma ganhar implica a outra perder.
2ª Crítica – A forma como olhamos para a interacção entre os agentes económicos
Podemos apresentar o argumento de que uma empresa está em competição em relação ao mercado, mas se virmos a empresa em relação ao seu produto ou serviço, clientes e trabalhadores esta passa a ser uma relação de cooperação, atenção, carinho, de serviço etc. Neste caso, porque não temos os incentivos orientados para as relações da empresa para com a sua actividade e agentes que nela participam directamente, ao invés da empresa para com o mercado?
Faz mais sentido incentivar uma empresa a preocupar-se com a qualidade do seu produto ou serviço, com os trabalhadores e clientes em primeiro lugar, do que incentivar à preocupação com o mercado primeiro e deixar estes factores para segundo plano.
3ª Crítica – Competição
De modo a haver competição é preciso haver uma razão para competir.
Nos casos em que há recursos suficientes para todos implica criar escassez artificial de modo a criar essa razão. Por exemplo, se tivermos dois chocolates para duas pessoas e quisermos um motivo para competição podemos dizer que só vamos dar um dos chocolates ou dar os dois somente a uma pessoa.
Nos casos em que há recursos escassos, a pessoa está incentivada a ver somente para ela, sem pensar no outro. Seguindo o mesmo exemplo, se tivermos um chocolate para duas pessoas, uma das soluções poderia passar por dividir ao meio, mas em competição a pessoa é incentivada a ficar com um e a outra sem nada.
Quando passamos este raciocínio para a economia estamos a falar de pessoas sem abrigo quando temos casas mais que suficiente para todos terem habitação, ou ter alimentos suficientes para alimentar todo o mundo e pessoas a morrer à fome. Nos casos em que os recursos são escassos, em vez de incentivarmos a partilha, estamos a incentivar o egoísmo.
É de facto a competição o melhor caminho para a prosperidade ou podemos criar uma economia baseada noutro tipo de interacção?
Roy Silva
Licenciado em Economia, é um amante de Desporto e Hip Hop.