Janeiro foi um mês confuso, em especial para as escolas. A pandemia obriga a que as decisões nem sempre pareçam as mais lúcidas, nem as mais coerentes. Entre setembro e janeiro, por diversas vezes ouvimos membros do governo a garantir que as escolas são lugares seguros. Não duvido de todos os esforços de professores e funcionários das escolas em garantir isto mesmo. Contudo, a sua “jurisdição” termina no portão das escolas, e esse tornou-se o lugar de mais uma transgressão onde o respeito da etiqueta respiratória ficou esquecido.
A verdade é que, por causas que ainda não são totalmente claras, janeiro veio com um aumento de casos. Apesar das garantias de segurança das escolas, fomos forçados, pela segunda vez no espaço de menos de um ano, a fechar as escolas. Vários foram os relatos de alunos a manifestarem medo em ir à escola por poderem contagiar as famílias. E este deve ser o último sentimento que um aluno deve ter por ir à escola, desde logo pelo reflexo que isso terá na sua aprendizagem.
A explosão de novos casos em janeiro e consequente aumento de internamentos e mortalidade mostrou que nós – sociedade – não fomos capazes de ter os comportamentos necessários para garantir o mínimo de normalidade para a geração (onde eu também me incluo!) a quem vamos pedir para pagar os custos desta crise, muito provavelmente durante toda a sua vida.
Chegados a este ponto, a realidade é que nada podemos fazer para alterar este janeiro. As decisões foram tomadas e apesar do custo enorme, foram tomadas sem grandes alternativas.
Chegados a fevereiro, no contexto das escolas, o que se torna mais relevante é garantir as condições para que a geração em idade escolar possa continuar as suas aprendizagens. Para este mês de fevereiro e os próximos que virão, é necessário pensarmos em tudo, para não deixarmos ninguém desta geração para trás. Elenco alguns tópicos para pensarmos no que pode ainda ser feito:
- A Alemanha, no final de janeiro, através da sua Chanceler, garantiu que o Governo está a fazer todos os possíveis para que as creches e as escolas sejam as primeiras a reabrir. O principal objetivo desta garantia é restaurar o mais depressa possível uma parte da rotina diária e diminuir a pressão sobre as famílias.
- As crianças e adolescentes são o grupo da população que mais sofre e sofrerá com a pandemia. Não só no curto prazo, diretamente com a privação da liberdade que tinham antes e indiretamente ao verem familiares a lidarem com as consequências que a pandemia traz, bem como no longo prazo a terem de pagar a fatura da crise económica que se sucederá. Isto traz consequências para a sua saúde mental. É importante manter ou mesmo reforçar o acompanhamento psicológico que as escolas já faziam, em particular aos que pertencem a grupos mais vulneráveis.
- O ensino à distância de jure virá a partir da próxima semana (8 de fevereiro). Nestas duas semanas que antecedem a data, algumas escolas (em especial escolas privadas) optaram por manter o acompanhamento dos seus alunos, sobretudo através de aulas de revisão e consolidação – técnica bastante importante no processo de aprendizagem. Seria importante que isto fosse generalizado. Todos sabemos que depois das interrupções letivas, vêm as chamadas “brancas feriais”.
- As escolas são, porventura, o melhor meio de combate à desigualdade, e sem dúvida nenhuma o melhor mecanismo de elevador social. Contudo, se antes da pandemia o elevador já funcionava de forma diferente entre público e privado, e mesmo dentro da rede pública de forma diferente conforme a zona onde a escola está inserida, com a pandemia e a digitalização das aulas, esta desigualdade pode ser agravada. É crucial reabrir esta discussão, e focar as decisões da recuperação pós-pandemia no conserto da escola pública como mecanismo de combate à desigualdade.
- O ajustamento do calendário letivo é também uma necessidade. Há aprendizagens do ano anterior que só foram recuperadas este ano. É necessário que esta recuperação seja contínua. Ao mesmo tempo, importa que o concurso de acesso ao ensino superior seja normalizado com exames nacionais justos, que possibilitem a distinção correta entre os alunos. No ano passado isto tendeu a não acontecer, em particular, nos que têm notas mais elevadas.
A pandemia está na sua fase mais dramática. Os números diários falam por si. Importa nesta fase combatê-la da melhor forma. No entanto, não pode ficar para trás a geração que mais tempo terá de lidar com o problema. Temos de garantir que estes têm as ferramentas necessárias para lidar com as suas consequências. Temos de garantir a sustentabilidade intergeracional já a partir de fevereiro!
Tiago Bernardino
Estudante desde que tem memória, sonha-o ser toda a vida para que um dia possa saber tudo sobre nada. Acha que percebe de Economia e decidiu ir mostrar isso lá para os lados da Escandinávia. Considera que o que falta para Economia se tornar um tópico sexy é haver uma série de televisão sobre economistas.